Dando laço nos embrulhos dos presentes não me vejo estimulando o consumo e sim criando laços com que amarro a esperança de manter próximo e unidos os que chamo de meus. Não fosse a vida destruidora de laços e criadores de nós.
Há um potencial regenerador, um desejo de comunidade religiosa ou familiar ou, simplesmente, de união a algum ente querido. No natal dói mais a solidão e bem disso sabem os que conheceram o exílio e as noites gélidas em terra estrangeira, com saudade da falsa neve de algodão.
Em todo o mundo multidões se deslocam para passar essa noite com "os seus". É também o esforço de riscar no espaço, um traço de união entre os que vivem separados. A dificuldade na noite de hoje é multiplicar-se entre os entes queridos, espalhados em casamentos rompidos e recompostos ou em cidades que a globalização e a imigração fizeram conviver sem que por isso seja menos distante.
No natal cada um reserva para si um tempo inegociável - nessa noite tempo não é dinheiro - e se recolhe a um espaço privado, na contramão do cotidiano frenético que, impiedoso, devora os momentos de intimidade.
Artigo escrito por Rosiska Darcy de Oliveira - O Globo - 24 de dezembro de 2011
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